segunda-feira, 16 de maio de 2011

Compras, créditos e vendas podem ser alvo de burla na Net. Ao munir-se com os conselhos da Dinheiro&Direitos;e da PJ evita o assalto à carteira.

Nos últimos anos, o correio electrónico tem sido um meio muito usado para tentativas de fraudes e burlas. Obter o número do cartão de crédito, dados bancários, digitalizações de bilhetes de identidade ou passaportes ou conseguir dinheiro são os golpes mais comuns. Desconfiar e informar-se antes de aceitar o que lhe propõem é um cuidado básico para não ser enganado.


Via directa para o e-mail


Eduardo Gonçalves, 62 anos, de Estombar, Lagoa, recebeu um e-mail do director de uma empresa sediada na Nigéria, denominada Panic Emprestimo Investmento Limited, com uma proposta de crédito pessoal irrecusável. Propunha-lhe um empréstimo até oito milhões de euros, com uma taxa de juro de 3% e sem precisar de garantias. Curioso, Eduardo mostrou-se interessado num empréstimo de 10.000 euros. Após fornecer alguns dados viu o seu crédito aprovado, mas, para que fosse feita a transferência para a sua conta teria de pagar 110 euros como "despesas administrativas ou de gestão". Desconfiado, o associado da Deco pediu um documento oficial para examinar e assinar. Recebeu um contrato escrito num mau português, que enviou à Deco para apreciação. A instituição confirmou a suspeita de Eduardo Gonçalves: estava perante uma tentativa de fraude. Assim que pagasse os 110 euros, nunca mais teria notícias do seu interlocutor, perderia o dinheiro e não obteria qualquer crédito.
O envio indiscriminado de e-mails com propostas de crédito fácil ou de investimentos com elevada rentabilidade, por exemplo, é uma prática comum. Os endereços são conseguidos através de listas ou retirados de mensagens que circulam na internet, entre outras.
O endereço do remetente e o modo como a mensagem está escrita são pistas importantes para detectar uma fraude. Verifique se o primeiro é de uma conta gratuita. Em caso afirmativo desconfie. Quanto ao texto, não é habitual empresas estrangeiras enviarem e-mails em português. Muito menos um contrato legítimo é escrito num mau português, pois pode dar azo a interpretações erradas. Tal apenas acontece quando se utilizam os tradutores automáticos na internet. Nenhuma entidade empresta dinheiro sem uma garantia mínima de que o irá receber de volta. Não foram pedidas garantias a Eduardo Gonçalves.
Outro ponto a analisar é a origem da empresa. No caso do associado da Deco, aquela era nigeriana, ou seja, um país cujas leis são desconhecidas para a grande maioria dos portugueses. Mas também chegaram à instituição situações de empresas da União Europeia. Neste caso, preste atenção aos elementos referidos atrás para detectar eventuais fraudes.



Do anúncio à fraude

Em 2008, Pedro Alves, 45 anos, de Lisboa, colocou vários anúncios na internet para vender uma carrinha por 11.500 euros. Ao fim de vários meses, recebeu um e-mail, num inglês pouco correcto, de um potencial comprador da Irlanda do Norte. Este estava interessado na carrinha para a vender num país da Europa de Leste ou em Angola. Como não estava em Portugal, propôs enviar um cheque com um valor superior ao preço da carrinha, para que Pedro Alves tratasse da transferência de propriedade, enviasse a carrinha e lhe devolvesse o montante a mais através da Western Union. Segundo o comprador, o tempo necessário para o dinheiro ficar disponível na conta, daria para tudo. Apesar de desconfiar de fraude, Pedro Alves aceitou o negócio. Ao fim de algumas semanas recebeu uma carta de Itália, sem remetente, com um cheque no valor de 17.000 euros, da dependência em França de um banco suíço. Se Pedro Alves tivesse feito o que o comprador lhe pedia descobriria que o cheque não tinha provisão, ficaria sem a carrinha e sem os cerca de 4.000 euros que teria devolvido.
Chegam ao conhecimento da Deco casos de consumidores com carros ou casas à venda na internet e que recebem propostas de potenciais compradores com o intuito de os burlar. Quase sempre a proposta passa pelo envio de um montante. Este pode servir para pagar uma taxa que desbloqueie a transferência de dinheiro ou devolver quantias enviadas a mais. Nunca envie dinheiro, por pouco que seja, para finalizar um negócio. Mais ainda quando é o vendedor.


O que fazer caso seja vítima de uma fraude

Quais as burlas mais comuns?
As compras através da internet envolvem mais burlas. Regra geral, alguém anuncia a venda de um produto (telemóvel recente ou uma mala de marca), em sítios de leilões ou outros, com indicação de que o pagamento deve ser feito por transferência bancária e o bem será depois enviado. Resultado: o consumidor nada recebe ou é presenteado com uma caixa de pedras. Também há burlas na venda de carros e arrendamento de casas para férias.

Que cuidados devem ter as pessoas para não serem enganadas?
É preciso ter muito bom senso e a ideia clara de que tudo na vida tem um custo e ninguém dá nada. Também não devem fornecer dados pessoais, bancários ou palavras-chave, a não ser em sítios de confiança. Para tal, devem verificar se já há queixas sobre o sítio, se é novo ou existe há muito tempo ou se conhecem alguém que já o tenha utilizado. Não podemos dizer que não façam compras através da internet, pois há negócios legítimos. A internet foi um novo mundo que se abriu e as pessoas tendem a confiar num ecrã de computador e numa fotografia que lá esteja, que pode ser falsa ou manipulada. Confiam mais no computador do que nas pessoas com quem se cruzam no dia-a-dia.

O que fazer quando é vítima ou suspeita de fraude?

  • Nota: Este artigo foi publicado na revista Dinheiro&Direitos, nº98 de Março/Abril de 2010

 

Apresentar queixa às autoridades policiais mais próximas: PSP, GNR ou Polícia Judiciária. Qualquer uma é obrigada a receber a queixa, independentemente de ser ou não da sua competência. Ao apresentar queixa numa autoridade menos indicada, pode demorar mais tempo até a investigação começar e, por uma questão de rapidez, ser preferível ir a outro lado.